Família Doriana

Eventualmente, em congressos que visito, quando se abordam as questões familiares e os seus novos arranjos, o palestrante com brilho nos olhos vibra ao dizer que a família doriana ficou no passado, esquecida nos comerciais de TV.
Eram apenas um pai e uma mãe com seus filhos tomando um café da manhã com o elemento mais comum da mesa matutina dos brasileiros: a margarina. No entanto, o desconforto obviamente não se achava na oportunidade que aqueles personagens, diferentes de parte da população, tinham de estar juntos logo ao raiar do dia. O desconforto estava centrado nas figuras materna e paterna interligadas, na família tradicional, em sua vida comum e sua rotina como a de quase todas as famílias. Ou alguém me dirá que a margarina estava presente nos piqueniques realizados em parques franceses, japoneses ou em lanches na Disney?
O brilho nos olhos que vislumbrei nesses palestrantes é vitorioso e cego. Vitorioso porque para essa gente o modelo tradicional engessava e diminuía a possibilidade de haver famílias alternativas e tão cheias de amor quanto as do comercial. Definitivamente, as famílias alternativas não eram representadas naquele café da manhã simples, com uma família simples colocando como recheio do pão de sal o elemento mais barato que há: a margarina. Vitorioso porque aqueles que pregam o amor à diversidade não enxergam o amor na família tradicional, antes, falsidade e mentira. Para defender modelos alternativos foi necessário odiar o modelo clássico e natural. Foi necessário tripudiar sobre o caráter do pai nas novelas e debochar da mulher, ela dona de casa ou não. Para remodelar o arranjo fisiologicamente criado foi necessário destruir a idéia presente no imaginário coletivo quando se falava em família. Foi necessário que na cartilha a mãe causasse dó com a sua expressão cansada enquanto ao pai era reservado o direito de ficar confortável em sua poltrona lendo o seu jornal. Foi necessário um investimento pesado. Foi necessário que artistas propagassem aos quatro ventos o glamour de ser mulher e ser mãe solteira (a tal da produção independente). Foi necessário que muitas frases e comportamentos viralizassem até que aquela minha colega de colegial me dissesse que o sonho dela era ser mãe, mas que optaria pela tal "produção independente" porque a família era uma "instituição falida". Foi necessário que, em vão, em nosso mundo longe de holofotes, eu lhe dissesse que cuidar de um filho sozinha era bem difícil. Foi necessário que na vida adulta essa moça feminista, pedagoga e cheia de ideologias marxistas tivesse um filho de um homem ideologicamente alinhado com a ideologia dela, para que, por fim, mudasse um pouco a forma de pensar e passasse a reclamar nas redes sociais que o dito cujo não lhe dava assistência e não era um pai presente para o filho dela. Cabe aqui uma interrogação daquelas que encontraríamos na cidade de Itu -- cidade do interior de Sampa conhecida pela exposição de objetos com tamanhos completamente fora do padrão: enormes.
Lá atrás, eu havia dito que o brilho nos olhos era vitorioso e cego. Mas como cego se a ausência de visão, da maneira como a conhecemos, pode mesmo é trazer certa opacidade ao olhar? Explico. A cegueira ideológica brilha como uma lanterna de celular, uma lâmpada acesa, um farol. Embora pretenda trazer noção do ambiente em que se está, este brilho não substitui a claridade de uma manhã iluminada naturalmente pelo Sol. Este cego é aquele que vive no autoengano. É necessário destruir para remodelar. É necessário que o modelo familiar tradicional seja execrado ao mesmo tempo em que os modelos que pretendem tomar o seu lugar sejam enaltecidos, não sem antes terem sido apresentados como modelos perseguidos e vitimizados pelo tal do vilão, o Sr. Patriarcado. É necessário que à mulher o dom de carregar e parir uma vida seja visto como uma carga pesada que ocuparia na vida dela a oportunidade de desenvolver uma carreira de sucesso, viagens pelo mundo e premiações. É necessário que a adolescência seja postergada até o momento em que a paternidade seja vista pelo rapaz como uma fardo, um muro a impedi-lo de viver, ser feliz e curtir a vida adoidado.
É necessário que o dom de gerar uma vida seja inferiorizado e tratado como incompatível com uma vida livre, próspera e feliz para que os novos arranjos familiares não sejam de algum modo inferiorizados. Os "novos" modelos, natural e biologicamente falando, não podem gerar uma vida. Ou um homem e um animal podem gerar um bebê? Mas quem se importa? Filho é secundário, terciário ou sequer está na lista dos projetos futuros. Quanto menos crianças, afinal, nesse planeta super lotado, melhor, não te parece?
Há, no ato sexual do homem e da mulher uma troca tão grande que os permite tornar-se um. Gerar uma vida é um ato de amor, intensidade e prazer.
Tenho saudade da família doriana. Não tive, praticamente, uma família de comercial. Não foram muitas as vezes que tomamos o café da manhã juntos e isso porque mamãe também trabalhava. Quando ela estava em vias de se aposentar, ela partiu, aos 52 anos, e eu tinha 12. Mas tomei muitos cafés (chás, para ser exata) ao lado do meu pai e da minha irmã. Éramos uma família com um integrante a menos e ainda somos uma família incompleta. No entanto, o fato de a minha família não ter sido aquela do comercial não me fez querer que todas as famílias fossem remodeladas ou arruinadas para que, enfim, eu me sentisse inclusa.
Hoje, a minha família é o meu esposo. Ainda não temos filhos, filhos coroariam a nossa família. Mas um dia, quem sabe, se Deus permitir? Filhos são herança do Pai das Luzes.

A cosmovisão cristã norteia a nossa existência, enxergar e traduzir a realidade é desgastante, porém, necessário. Sabemos que a depravação humana está presente tornando qualquer pessoa maculada pela Queda e impossibilitada de ter atos puramente bons e perfeitos. Sabemos que a graça divina permite que os nossos frutos não sejam perdidos.

A família é um dos pilares da sociedade, restando a ela o calabouço gerado pelo politicamente correto, pouco ou nada restará para lamentar. Abandone ou troque os filtros do Instagram sempre que quiser, no entanto, enxergue a realidade com a sua cosmovisão bíblica para que o calabouço progressista não separe nele vagas para a sua descendência.
Não pense que ouvirá aplausos. A nossa missão é pura e simplesmente propagar a Verdade.

Ps. A família não acabará, palestrantes.


Que todas estas palavras que hoje lhe ordeno estejam em seu coração. Ensine-as com persistência a seus filhos. Converse sobre elas quando estiver sentado em casa, quando estiver andando pelo caminho, quando se deitar e quando se levantar. 
Bíblia, Livro de Deuteronômio 6:6-7


Soli Deo Gloria!

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