Uma das bandeiras da modernidade,
dos ditos “direitos” reprodutivos, aclamado pelo movimento feminista e seus
adeptos, é a questão do aborto. Se de um lado temos o entendimento cristalino
como preconizado na Carta Magna brasileira que a vida é um direito inviolável,
do outro lado há um movimento que na tentativa de deturpar a sacralidade da
vida, luta para que haja a legalização do infanticídio.
Contudo o texto, caro leitor, não
é para falar desse aborto; caso queiram conhecer mais sobre o assunto e
defender a vida desde a concepção, sugerimos que acompanhe os textos e também o
futuro livro de Francisco Razzo, filósofo residente em Sorocaba, que é sem
sombra de dúvidas, uma das maiores autoridades no assunto atualmente.
O texto a seguir quer falar de
outro tipo de aborto. Queremos comentar sobre algo que nasce dentro do seu
coração e que se não for abortado, assim como ocorre na gestação, irá nascer. O
problema é que essa semente que foi germinada chama-se pecado. Quando um pecado
nasce no seu coração, quando ele começa a ser alimentado, inevitavelmente será
parido. E quando ele brotar haverá uma terrível e triste consequência.
Como casal, queremos meditar um
pouco sobre isso no contexto do casamento. O texto sagrado dos cristãos, a
Bíblia, revela no livro de Gênesis o seguinte:
E disse Adão: Esta é
agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; esta será chamada mulher,
porquanto do homem foi tomada. Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe,
e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne. E ambos estavam nus, o
homem e a sua mulher; e não se envergonhavam. Gênesis 2:23-25
Se aqui nasce o casamento e todo
entendimento cristão para família, há um detalhe no final da narrativa que
chama muito a nossa atenção. Reparem que Adão e Eva estavam nus e não e se envergonhavam
de nada. Adão não tinha o que esconder de Eva, nem ela o que esconder dele. Bem
diferente dos dias atuais, não é? Hoje há uma falsa ideia que os cônjuges devem
manter suas particularidades de tal modo que um não tenha acesso ao que
pertence ao outro. Um não sabe quanto o outro tem na conta bancária; um não
sabe a senha do e-mail do outro; celular protegido com senha, impedindo o outro
de ter acesso às mensagens e uma infinidade de outras situações que se
colocadas todas na mesa daria uma lista enorme.
O casamento moderno muito mais se
assemelha a um contrato civil do que matrimônio, contudo para nós casamento
continua sendo casamento.
A ideia cristã de
casamento se baseia nas palavras de Cristo de que o homem e a mulher devem ser
considerados um único organismo - tal é o sentido que as palavras "uma só
carne" teriam numa língua moderna. Os cristãos acreditam que, quando disse
isso, ele não estava expressando um sentimento, mas afirmando um fato — da
mesma forma que expressa um fato quem diz que o trinco e a chave são um único
mecanismo, ou que o violino e o arco formam um único instrumento musical. O
inventor da máquina humana queria nos dizer que as duas metades desta, o macho
e a fêmea, foram feitas para combinar-se aos pares, não simplesmente na esfera
sexual, mas em todas as esferas. – Cristianismo Puro e Simples, – C. S. Lewis.
Se a ideia central do casamento
cristão consiste que ambos tornam-se “uma só carne”, então isso significa que
um não tem o que esconder do outro. C. S. Lewis de forma muito brilhante
descreve sobre o casamento no livro Cristianismo Puro e Simples, que
parafraseando o pastor batista Jonas Madureira, “todo cristão deveria ler antes
de passar desta vida”. Lewis entende que não é a paixão que sustenta o
casamento e sim a justiça, uma vez que ser fiel a um juramento feito diante de
Deus, da igreja, de amigos e da sociedade trás nobreza e ninguém quer ser
qualificado como desonesto e impostor.
Entre os juramentos feitos é dito
que promete amar, respeitar e acima de tudo, cuidar. E o início de todo
casamento, onde o casal está enamorado é como nas canções de amor e nos contos
de fadas. Todos os dias parecem primavera cheia de brilho e com os pássaros
cantando, mas chegará o dia que a paixão, o fogo que ardia já não arderá tanto
assim.
“A paixão amorosa não
pode ser a base de uma vida inteira. E um sentimento nobre, mas, mesmo assim, é
apenas um sentimento. Não podemos nos fiar em que um sentimento vá conservar
para sempre sua intensidade total, ou mesmo que vá perdurar. O conhecimento
perdura, como também os princípios e os hábitos, mas os sentimentos vêm e vão.
E, o que quer que as
pessoas digam, a verdade é que o estado de paixão amorosa normalmente não dura.
Se o velho final dos contos de fadas: "E viveram felizes para
sempre", quisesse dizer que "pelos cinquenta anos seguintes
sentiram-se atraídos um pelo outro como no dia anterior ao casamento",
estaria se referindo a algo que não acontece na realidade, que não pode
acontecer e que, mesmo que pudesse, seria pouquíssimo recomendável. Quem
conseguiria viver nesse estado de excitação mesmo por cinco anos? Que seria do
trabalho, do apetite, do sono, das amizades? E claro, porém, que o fim da
paixão amorosa não significa o fim do amor. O amor nesse segundo sentido -
distinto da "paixão amorosa" - não é um mero sentimento. E uma
unidade profunda, mantida pela vontade e deliberadamente reforçada pelo hábito;
é fortalecida ainda (no casamento cristão) pela graça que ambos os cônjuges
pedem a Deus e dele recebem. Eles podem fruir desse amor um pelo outro mesmo
nos momentos em que se desgostam, da mesma forma que amamos a nós mesmos mesmo
quando não gostamos da nossa pessoa. Conseguem
manter vivo esse amor mesmo nas situações em que, caso se descuidassem,
poderiam ficar "apaixonados" por outra pessoa. Foi a "paixão
amorosa" que primeiro os moveu a jurar fidelidade recíproca. O amor sereno
permite que cumpram o juramento. E através desse amor que a máquina do
casamento funciona: a paixão amorosa foi a fagulha que a pôs em funcionamento.”
(cristianismo puro e simples – C. S. Lewis)
Perceba que Lewis comenta que por
um descuido o homem ou a mulher casada podem se apaixonar por outra pessoa e
isso, infelizmente, tem se tornado cada vez mais comum. É com grande tristeza
que se constata que as pessoas propõem o divórcio como solução para viver outro
romance, na busca impensada por felicidade. Não percebem, elas, que se um dia a
paixão com “A” foi embora, com “C” também irá. E da mesma forma que houve o abandono
com “A” irá ocorrer o abandono com “C”. Então, o que “B” na verdade pretende é
satisfazer seu ego e desejos de forma egoísta, fazendo com que seu parceiro ou
parceira torne-se um mero objeto de satisfação erótica.
Se dentro do casamento é
inimaginável que haja paixão amorosa de forma contínua e que chegará o momento
de esfriamento da paixão, será o amor e a justiça que deverão sustentar o
casal. Por isso, quando, por um descuido, houver um estado de excitação por
outro que não o seu cônjuge, este fato deve ser imediatamente comunicado ao seu
parceiro. Mas, por que os casais não fazem isso?
Não confessamos este tipo de
pensamento e desejo, pois temos medo da reação de nosso parceiro. Acreditamos
que ao contarmos o ocorrido a sua reação será de desacordo e uma possível
solicitação de divórcio. Desconfiança, medo e insegurança normalmente não serão
sentimentos apenas do que confessa, mas, também, do outro que recebeu tal confissão.
Os casamentos atuais são tão superficiais e hollywoodianos que os cristãos se esqueceram
de que ao seu lado também há um pecador que disse “sim”. Não pense você que o
seu parceiro ao se casar se tornou um santo que agora não tem mais olhos para
tudo que há ao redor, ele ainda está sujeito a todo tipo de pecado, inclusive,
os sexuais.
Você perceberá que ao confessar
um pecado, para o seu parceiro, um peso enorme sairá de suas costas; é como o personagem
Cristão do livro O Peregrino de John Bunyan, quando o mesmo percebe o tamanho
do fardo que carregava e este desapareceu, foi como uma bigorna que saiu de
suas costas e o alívio fora enorme. Quando se confessa um pecado oculto, você
está gritando por socorro e pedindo ajuda para aquele que prometeu estar ao seu
lado até que a morte o separasse, por isso, ao que confessa, destacamos a
coragem de desnudar-se e ao que recebe a confissão, encorajamos para que haja
cooperação e ajuda no combate a este pecado. Este pecado uma vez confessado, é
abortado do coração do que confessa.
É esta a coragem de confessar e o
desafio de auxiliar o confessante que desafiamos a você, leitor, a meditar. Caso
você tenha um pecado ainda não confessado ao seu parceiro, primeiro, confesse-o
a Deus e em seguida confesse ao seu parceiro, porém, se você receber a
confissão de seu parceiro, ajude-o em oração, para que este desejo pecaminoso
seja abortado e vivam um relacionamento honesto e sem mentiras, onde não haja
nada que se possa envergonhar, pois assim como Adão e Eva não tinham nada em
que se envergonhar um do outro, você possa desfrutar de um relacionamento que
aponte para o primeiro casal antes da queda também, lembrando-se sempre que o
que Deus uniu não separe o homem.
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